O Silêncio

Poucas pessoas já tiveram a oportunidade de “ouvir” o silêncio absoluto. O silêncio que comumente conseguimos à noite ou em salas fechadas é, na realidade, repleto de ruídos e sonoridades sub-harmônicas.
Já tive a oportunidade de sentir a pungência do silêncio absoluto no fundo de uma mina de cobre, a 550m abaixo do nível do mar. Chega a ser assustador! Os ouvidos zumbem à procura de um referencial qualquer, sem encontrar nada que o ampare. A sensação de vazio é total. Deve ser assim também no espaço exterior.
Agora, voltando ao nosso velho, incompleto e comum silêncio cotidiano, vamos falar do seu papel no contexto musical.
É incrível a importância que ele exerce na música, do lado de lá e de cá da platéia. O que, a priori, parece ser a negação da música é na verdade um de seus grandes recursos.
Aquele instante em que o maestro ergue a mão, pedindo atenção e preparando a sonoridade inicial, deixa qualquer um de respiração presa! Naquele momento o silêncio pesa tanto quanto um fortíssimo orquestral.
Da mesma forma, no término da obra quando o maestro, em um gesto espiralado, corta a sonoridade e mantém a mão no ar alguns instantes. É um momento de pura musicalidade, onde o silencio emoldura e valoriza a música!
Compositores de todos os estilos e gêneros usaram, muitas vezes de forma genial, o silêncio. Uma pausa geral, por exemplo, no meio de uma obra para grande coro e orquestra tem um efeito de expectativa e interrogação estarrecedor.
Beethoven, Mozart, Debussy e Villa-Lobos, dentre muitos grandes compositores, fizeram o uso inteligente da pausa. Também na música de Jazz se faz um uso brilhante do silêncio (Miles Davis esperava até o último instante para intervir, da maneira genial que a história registrou, deixando a audiência de fôlego suspenso).
O silêncio também pode ter musicalmente um caráter meditativo e reflexivo. No final de um movimento o compositor, através do maestro, nos oferece instantes de silêncio para assimilação e reflexão do abstrato e subjetivo discurso musical.
É como se a obra musical dissesse naquele instante de silêncio: “Eis os afetos e emoções que eu precisava dizer neste capítulo, reflita um pouco para podermos prosseguir!”
Talvez, quem sabe, alguém divida comigo o conceito de que o silêncio não é o nada se manifestando, mas sim aquilo que não foi dito pelo cosmos!
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