Pular para o conteúdo principal
História da Música Gótica
No final dos anos 70 e início dos anos 80, a raiva e a agressividade que incendiavam o movimento punk começam a ceder lugar a uma profunda depressão e um sentimento de insatisfação de um lado e falta de perspectiva do outro.

Na Inglaterra Margareth Tatcher assume o poder, triplica-se o desemprego e aumenta a inflação. Este é o cenário triste da chamada década perdida. Nas paradas musicais domina a pose e o "glamour" do pop inglês e da dance music com seus artistas poseurs e cintilantes.

Entretanto algo estava para acontecer em uma cidadezinha chamada Manchester, onde havia muita gente morando em subúrbios cinzentos recusando-se a enterrar o legado punk, e achando que aquele "pop poseur" tinha muito pouco a ver com a vida real na Inglaterra.
E é na mesma Manchester que surge o porta voz ideal destes angustiados de quarto, na figura de Ian Curtis, um dos primeiros a transformar toda essa melancolia e desilusão em música, através da sua banda Joy Division, que apesar da curta duração devido ao suicídio de Ian, seu vocalista, deixou como legado o rock mais melancólico e desesperado já feito, sendo uma das bandas mais representativas do movimento pós-punk, como ficou conhecido este substilo musical do rock, que apresentava elementos musicais do punk mas com uma dose de melancolia mais acentuada. E é dentro do pós-punk que encontramos as mais representativas bandas do chamado estilo gótico, que no Brasil também foi chamado de "dark", devido a preferência por roupas pretas de seus adeptos.

É nos anos 80 que a morte será o tema mais recorrente nas canções, sendo igualmente comuns temas como melancolia, desespero, abandono, decepções amorosas e falta de perspectivas. Estes temas se fazem presentes nas músicas de um certo grupo suburbano de Crowley, Sussex, Inglaterra, chamado
The Cure, cujo vocalista Robert Smith com seu jeito soluçante de cantar, cabelos desgrenhados e olhos pintados de preto, fez a "alegria" dos cultuadores de deprê em suas canções.
Entretanto a cristalização do gótico enquanto gênero esteve a cargo de um quarteto de Northampton (Inglaterra), que em seu primeiro single fala de um tal Bela Lugosi, famoso vampiro dos anos 30, e cujo vocalista Peter Murphy delirava pesadelos com sua voz soturna sob um baixo pesadão e efeitos macabros de guitarra, falando de temas como morte, vampiros, morcegos e rituais pagãos. O nome do grupo, Bauhaus era uma referência a escola alemã de arquitetura que na década de 1930 teve suas portas fechadas pelos nazistas devido a ligações com o expressionismo alemão, considerado por Hitler uma "arte degenerada".
A voz igualmente soturna de Andrew Eldritch foi o selo definitivo do movimento gótico, sendo seu grupo, "The Sister of Mercy" considerado, com toda razão,um dos maiores representantes do gênero, além de possuirem até hoje uma influência marcante em tudo que diga respeito ao estilo. Dois ex-membros do SOM formaram ainda um outro grupo seminal do gótico em 1985, "The Mission".
Não se pode também esquecer as musas, pra ser mais exata duas musas, madrinhas, divas e rainhas máximas do gótico: Siouxsie Sioux e Anja Howe.
Comecemos por Siouxsie, com seu estilo misto de diva dos anos 20 e de prostituta nos seus belos olhos extremamente maquiados. Siouxsie e seus banshees eram majestades únicas do reinado gótico. Guitarras distorcidas, batida tribal, harmonias fluidas e climas mórbidos se traduziam em pérolas como "A Kiss in the Dreamhouse", "Kaleidoscope" e "Nocturne". Siouxsie também foi uma das primeiras cantoras a liderar uma banda "mais pesada". Nascidos no movimento punk,"Siouxsie & The Banshees" souberam fazer a perfeita transição para o gótico, sendo um dos precursores do estilo.
Quanto a sua majestade loira, Anja Howe, a vocalista da banda underground alemã "X-Mal Deutschland", pode ser considerada pioneira do estilo gótico na terra de Goethe, com sua voz inconfundível, acompanhada de guitarras e baixo linha serra elétrica. Eram também comuns na banda o uso de recursos eletrônicos, criando sons viajantes que mesclados ao vocal sedutor criavam texturas delirantes num perfeito clímax lírico-depressivo, levando os "mortos vivos" à loucura através de obras primas como "Incubus Succubus","Tocsin" e a maravilhosa "Matador".
Seria ainda uma grande injustiça da minha parte deixar de citar outras bandas igualmente seminais do estilo gothic e do darkwave como Clan of Xymox, Mission, Opera Multi Steel, Poesie Noire, Cult, Switchblade Symphony, Love is Colder than Death...bem são tantas que fica até difícil citar todas, em mais uma prova do quanto o estilo é prolífico.
No finalzinho da segunda metade da década de 1980 porém, o clima começa a tornar-se inóspito para morcegões e afiliados, e o estilo gótico começa a entrar em decadência, significando o fim de muitos grupos que consagraram o gênero, deixando orfãos e famintos de sangue muitos "nosferatus", e fazendo as noites enevoadas de Londres perder muito de seu charme.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Campo harmônico Campo harmônico  é um conjunto de acordes formados a partir de uma determinada escala. Tome como exemplo a escala de dó maior: C, D, E, F, G, A, B. Como formar um campo harmônico Para cada nota dessa escala, iremos montar um acorde. Vamos ter, portanto, sete acordes, que serão os acordes do campo harmônico de dó maior. Como faremos isso? Para cada nota da escala, o acorde respectivo será formado utilizando o primeiro, o terceiro e o quinto graus (contados a partir dessa nota, em cima dessa mesma escala). Vamos começar com a nota C. O primeiro grau é o próprio C. O terceiro grau, contando a partir de C, é E. O quinto grau, contando a partir de C, é G. Acordes do campo harmônico de dó maior O primeiro acorde do campo harmônico de dó maior é formado então pelas notas C, E, G (repare que esse é o acorde de dó maior, pois E é a terça maior de Dó). Agora vamos montar o acorde da próxima nota da escala, que é D. O primeiro grau é o...
Cálculo Modular de Notas e de Intervalos Do ponto de vista numérico-matemático, uma nota musical pode ser representada por um determinado número inserido num universo ilimitado de números. Se a nota Dó central, por exemplo, arbitrariamente ocupar a posição 60. Este universo pode ser dividido qualitativamente num universo ideal, no nosso caso, em função do número de partes da divisão do  diapasôn  (da oitava justa). Por exemplo, utilizando a nossa escala cromática o universo ideal seria a divisão duodenária (12) e a representação dos números a seguinte: o número 0 (zero) a nota Dó; o número 1 (um) a nota Dó# ou Réb; o número 2 (dois) a nota Ré; o número 3 (três) a nota Ré# ou Mib; o número 4 (quatro) a nota Mi; o número 5 (cinco) a nota Fá; o número 6 (seis) a nota Fá# ou Solb. o número 7 (sete) a nota Sol; o número 8 (oito) a nota Sol# ou Láb; o número 9 (nove) a nota Lá; o número 10 (dez) a nota Sib ou Lá#; o número 11 (onze) a nota Si; O próximo ...
A  clave de fá , também chamada de  androclave  ou de  clave masculina , é uma das  claves musicais  existentes. Seu símbolo musical, em forma de um  "F"  estilizado, é a letra que representava a nota no antigo sistema de notação musical ( letras de A a G ), sendo que, entre os dois pontos encontra-se a linha na qual se assenta a nota Fá. Geralmente é aplicada na terceira ou quarta linha da pauta musical (contando-se de baixo para cima), todavia, pode ser aplicada nas outras linhas. É utilizada principalmente para instrumentos graves como o  baixo , a tuba, o contrabaixo, a parte esquerda do piano, para a voz dos baixos, no passado esta clave era utilizada para o  barítono , mas seu uso na música atual é raro. Também é possivel escrever a clave de fá na terceira linha, possibilitando um registro ligeiramente mais agudo. Nesta clave, a linha de referência é indicada pelos dois pontos e assume a nota Fá-3. A posição mais frequente ...